Ehime
A Amável Princesa de Shikoku
Somente duas das 47 províncias do Japão tem o caractere que simboliza o amor (愛/ai) no nome: Aichi e Ehime. A primeira é a locomotiva industrial do Japão e sua capital, Nagoya, é uma das mais importantes cidades da Ásia. Já Ehime fica localizada na ilha de Shikoku e é uma pequena joia banhada pelo Mar de Seto, praticamente desconhecida dos turistas estrangeiros que visitam o Japão. Suas belezas naturais encantam os japoneses desde antiguidade. Então chamada de Iyo, a província é apelidada no Kojiki — o mais antigo livro de crônicas sobre o Japão publicado no ano de 712 — com o seu nome atual, Ehime, que pode ser traduzido como “amável princesa” ou, mais figurativamente, como “bela donzela”.
De Matsuyama — a capital e maior cidade da província — até um passeio de bicicleta partindo de Imabari e passando por belas montanhas, dois dos poucos castelos originais do país e pratos com frutos de mar, Ehime é um deleite para quem conhecer um Japão fora do óbvio, de forma tranquila e imersiva. Selecionamos algumas dicas para você se apaixonar por esta pequena e atraente província japonesa. Confira.
A CAPITAL
Maior cidade da ilha de Shikoku, Matsuyama costuma ser a porta de entrada para quem visita a província de Ehime. Servida por uma pequena mas eficiente rede de bondes, a cidade é um convite para quem gosta de passeios tranquilos, com um certo ar de nostalgia. Apesar de ser uma das mais dinâmicas localidades de Ehime, Matsuyama parece que foi congelada na Era Showa (1926 – 1989), considerada pelos japoneses como a Era de Ouro do Japão contemporâneo.
De frente à estação Matsuyama-shi (Matsuyama City Station, em inglês), fica um dos mais populares calçadões comerciais da cidade. Em seus quase 2 km de extensão, o Gintengai tem de tudo: de lojas de roupas até restaurantes. Chamados de forma genérica de shotengai, estes espaços de compra são um antecessor dos grandes shopping centers e são importantes não apenas como centros comerciais mas, também, no entretenimento dos locais.
Uma viagem no tempo
Ozu é uma pequena cidade no sul da província de Ehime. A cidade cresceu no entorno de um pequeno castelo com origem no século 14 e localizado no alto de uma colina, às margens do Rio Hiji. Reconstruído inúmeras vezes ao longo de sua história, o castelo chegou a ter algumas de suas construções salvas da sanha do regime Meiji. Mas as condições estruturais acabaram levando a demolição do que sobrou, ainda no século 19. Foi somente em 2004 que os moradores conseguiram finalizar a reconstrução de uma parte do castelo e, diferentemente do que ocorreu na maioria das localidades que fizeram o mesmo, em Ozu foram usados materiais mais próximos do original. Sendo assim, o castelo é todo em madeira e usa técnicas tradicionais de construção.
A cidade também tem um pequeno centro que é um verdadeiro passeio no tempo. Do calçamento, que data do Período Meiji, até as residências, algumas ainda mais antigas, tudo remete ao passado. Muitas das antigas casas de samurais foram preservadas, embora não sejam acessíveis ao público.
Às margens do rio também fica o Garyu Sanso, uma quinta datada de 1907, com sua construção fortemente influenciada por propriedades da mesma natureza existentes em Kyoto, como a famosa Quinta Imperial de Katsura. O projeto de arquitetura externa relativamente simples se revela grandioso e inteligente nos interiores. Amplos salões, incluindo um com a janela redonda que faz referência à lua cheia. Cada salão é rico em detalhes que valem a pena ser explorados. Dentro da propriedade também fica uma outra construção chamada Furo-an que tem como um de seus pilares uma árvore viva! Um encanto que faz jus ao nome cheio de poesia e delicadeza dado à província de Ehime.
Belo castelo
A outra ponta do calçadão dá para a estação Okaido, bem próxima do teleférico que leva até a mais conhecida atração da cidade, o Castelo de Matsuyama. Inaugurada em 1625, a construção original foi destruída por um raio no início do século 19. A versão atual do castelo data de 1820 mas, mesmo assim, tem um valor histórico inestimável já que a grande maioria dos castelos que existiam no país foi derrubada com a queda do xogunato Tokugawa e a tomada do poder político e militar pelo imperador Meiji em 1868. Como os castelos eram fortificações que ajudavam a manter o poder do xogum e de seus aliados, o novo governo os destruiu para evitar a reorganização das forças leais ao xogunato.
Por ser relativamente recente, o atual castelo também é um dos mais interessantes para a visita. Com duas torres e muitos ornamentos externos, também é frequentemente ranqueado entre os mais belos do país. Localizado no alto do Monte Katsuyama, o topo do castelo oferece uma bela vista da cidade e do Mar de Seto. Bem preservado, o interior do tem exposições que contam a história da cidade e da construção.
Outra atração do castelo é o jardim, cheio de cerejeiras que florescem entre o final de março e o início de abril e é um dos principais pontos para o hanabi — a observação das flores — em Matsuyama. No sopé da montanha, fica ainda o Ninomaru, a segunda camada de proteção do espaço do castelo. Esta era área em que, no passado, ficava a residência do senhor do castelo, além dos espaços administrativos mais importantes. As construções não existem mais. Somente a antiga planta foi preservada e transformada num jardim.
Águas (muito) quentes
Outra localidade muito popular em Matsuyama é Dogo Onsen, uma charmosa estância urbana de águas termais, localizada a cerca de 15 minutos de transporte público do castelo. Citada em registros desde a Antiguidade, a estância se tornou conhecida em todo o país através dos livros de Natsume Soseki (1867 – 1916), autor que viveu por um curto período na cidade. Natsume não só frequentava o Honkan, o principal estabelecimento da área, como retratou Dogo Onsen e outras localidades da cidade em sua obra Botchan.
O povo local não deixou as referências passarem branco. Soseki e seu livro são lembrados de várias formas no bairro. Na praça central, um relógio autômato revela, a cada 30 minutos, os personagens do romance. Um pequeno trem chamado Botchan Ressha, réplica das antigas locomotivas a diesel que circulavam na cidade desde o final do século 19, leva os turistas até a estação Dogo Onsen, um charme adicional no passeio pelo bairro.
Mas o grande atrativo do local é, sem dúvida, o Honkan. A casa de banhos, construída em madeira no século 19, é sempre citada como a inspiração para o diretor Miyazaki Hayao em um dos cenários de seu filme “O Castelo Encantado”. Com três andares, o espaço tem dois banhos, divididos por gênero, revestidos de pedra, sendo o maior deles o Kaminoyu (algo como “banho dos deuses”). O espaço ainda conta com áreas de descanso com piso de tatami e um extraordinário cômodo com paredes folheadas a ouro reservado para a visita da família imperial. Conhecido como “Banho do Imperador”, o espaço pode ser visitado por um valor adicional à entrada.
Dogo Onsen conta, ainda, com outras casas de banho de água termal. Construído nos anos 1950, o Tsubaki no Yu é mais frequentado por locais e é mais simples. Já o Asuka no Yu tem decoração inspirada no Período Asuka (538 – 710) e é uma espécie de versão 2.0 do Honkan. Novíssimo em folha, foi aberto em 2017, oferece banhos públicos e privados, estes últimos sob reserva e com pagamento adicional.
Cruzando o mar de bicicleta
Uma via expressa sobre o Mar de Seto poderia ser apenas mais uma das inúmeras rodovias do tipo que cortam o arquipélago japonês. Mas a Shimanami Kaido é diferente. Formada por oito pontes principais, a rodovia tem, além das estradas de rodagem, uma ciclofaixa para a travessia de bicicletas e pedestres.
Embora a via em si tenha 59,4 km de extensão, o caminho para ciclistas e pessoas a pé totaliza pouco mais de 70 km, já que a jornada é feita não somente nas pontes mas, também, nas ruas das ilhas. O ponto de partida na província de Ehime fica em Imabari e a outra ponta da rodovia, já na ilha de Honshu, desemboca na cidade histórica de Onomichi, que é parte da província de Hiroshima. De todas as pontes, somente a última, na chegada a Onomichi, é exclusiva para veículos automotivos. Esta parte do trajeto é feita de barco e custa ¥110 para cada adulto com a bicicleta. Também existem pedágios para as magrelas nas pontes. Quem faz o caminho inteiro gasta cerca de ¥500 nas cancelas.
Existem lojas para locação de bicicletas nas duas pontas da rodovia e na estação de Imabari. Além disso, existem pontos de aluguel e devolução nas ilhas cortadas pela ciclovia. A locação simples custa entre ¥1100 e ¥1600 por dia, incluindo aí as versões elétricas. Já bicicletas mais arrojadas, da marca Giant, podem chegar até ¥16000 por diária. Em ambos os casos, é preciso deixar um depósito que é devolvido na entrega da bicicleta, desde que ela seja feita em alguma das lojas nas pontas da ciclovia. Quem deixa a bicicleta nas ilhas perde o depósito.
Apreciar o azul do mar do alto das pontes é, sem dúvida, a cereja do bolo da rota. Mas o passeio pelas ilhas é que faz a grande diferença. Cada uma delas tem suas atrações e características e quem tem a intenção de fazer a rota com calma pode, inclusive, pernoitar no caminho. Restaurantes, lojas e outros estabelecimentos são adaptados para receber ciclistas e vários estacionamentos podem ser vistos ao longo da jornada. Como nas rodovias, as pontes maiores têm paradas com lojas e restaurantes.
Fazer a rota completa pode levar entre 4 e 5 horas para pessoas com mais experiência, contando pequenas paradas. Pessoas inexperientes, no entanto, devem ficar alerta. Pensar em 8 e 10 horas para toda a rota, considerando paradas curtas para descanso, não é fora da realidade. Como as bicicletas precisam ser devolvidas dentro do horário de funcionamento das lojas, sair depois das 8 da manhã pode ser arriscado.
Ônibus e barcas operam entre as ilhas e são úteis, em especial, para quem se cansa no caminho. Mas é preciso ficar de olho nos horários, já que eles não são tão frequentes.
CASTELO DE MATSUYAMA
Ehime-ken Matsuyama-shi Marunouchi 1
¥520
9 às 17 horas (entrada até 16:30)
https://goo.gl/maps/fiG45XYhDjKCLTXV7
DOGO ONSEN HONKANEhime-ken Matsuyama-shi Dogoyunomachi 5-6
¥420 (somente o Kaminoyu, os demais espaços estão fechados para restauração)
6:30 às 23:00 (entrada até as 22:30)
https://goo.gl/maps/DnuYx3x13zZJV8Sk9
ASUKA NO YU
Ehime-ken Matsuyama-shi Dogoyunomachi 19-22
a partir de ¥610
6:30 às 23:00 (entrada até as 22:30)
https://goo.gl/maps/VUz4F6xo4pgDqupD7
TSUBAKI NO YU
Ehime-ken Matsuyama-shi Dogoyunomachi 19-22
¥400
6:30 às 23:00 (entrada até as 22:30)
https://goo.gl/maps/jk1UxLNTXcHQLy2d8
CASTELO DE OZU
Ehime-ken Ozu-shi Ozu 903
¥550 (o passe conjunto com o Garyu Sanso custa ¥880)
9 às 17 horas (entrada até 16:30)
https://goo.gl/maps/Hi9t8Yh1LEa3VzE86
GARYU SANSO
Ehime-ken Ozu-shi Ozu 411-2
¥550 (o passe conjunto com o Castelo de Ozu custa ¥880)
9 às 17 horas (entrada até 16:30)
https://goo.gl/maps/nA3PYFbYKG9n8G688
Matéria cedida por https://jpguide.co