Quem mora em Aichi já se acostumou com trenzinhos vermelhos cortando a paisagem de tempos em tempos. São as composições da Nagoya Tetsudo (Nagoya Railways, no nome internacional), mais conhecida simplesmente como Meitetsu, uma abreviação formada pelos caracteres chineses iniciais das palavras que formam o nome da empresa. “Mei” (名), para quem achar estranho, é uma das leituras do primeiro kanji da palavra Nagoya (名古屋).
Fundada em 1894, a empresa absorveu inúmeras companhias ao longo de sua história até se tornar onipresente em Aichi como é nos dias de hoje. Aliás, é difícil desvincular a Meitetsu do próprio desenvolvimento econômico da província. Conforme Aichi foi pavimentando seu caminho para se tornar a locomotiva industrial do Japão e o terceiro maior produto interno bruto do país, os trens das linhas que hoje fazem parte da empresa se tornaram cada vez mais necessários na circulação de pessoas.
Partindo da capital Nagoya, é possível chegar a praticamente qualquer lugar da província usando os trens da Meitetsu. Complexos históricos, belezas naturais, festivais tradicionais, museus da indústria, riquezas gastronômicas e muito mais podem ser acessados por uma ou mais viagens do trenzinho vermelho. Por isso, neste blog, a gente quer que você deixe seu carro em casa e aproveite a malha ferroviária à disposição para aproveitar as ricas atrações de Aichi. Para tanto, a gente vai te dar dicas de lugares imperdíveis e para você usar de forma prática os trens. A melodia da estação está tocando, o trem já vai partir. Embarque com a gente!
(1) Korankei
Sem dúvida, o ponto mais bonito para ver o momiji — as folhas de outono — na província de Aichi, o Korankei é um vale formado pelo Rio Yodo. Em uma de suas margens, fica o Monte Iimori e, no seu sopé, o Templo Kojakuji. Conta a história que, no século 13, o monge-chefe do templo plantou alguns pés de bordo no caminho que leva até o espaço sagrado. A atitude teve um efeito multiplicador e a população que vive no entorno fez o mesmo às margens do rio, criando a bela paisagem que desfrutamos nos dias de hoje.
linhas: Nagoya, Mikawa
estações: Higashi-okazaki, Toyotashi
endereço: Aichi-ken Toyota-shi Asukecho Iimori
Das estações de Higashi-okazaki e Toyotashi, linhas de ônibus do grupo Meitetsu levam até o vale. https://goo.gl/maps/pswEP9Bg6yzVe9Uw9
(2) Hatcho Miso-no-sato
Missô é um item básico da gastronomia da província de Aichi. Esta pasta de soja é usada para fazer, dentre outras coisas, a sopa missoshiru, onipresente nas refeições do povo japonês, e vários pratos típicos da província. Em Okazaki se produz o hatcho missô, de coloração e sabor fortes. O Hatcho Miso-no-sato é uma área onde se concentram duas fábricas deste tipo de missô que era o favorito do unificador do Japão, Tokugawa Ieyasu. É possível fazer visitas, conhecer o processo de produção e provar até um pudim de missô.
Fábrica Maruyama
linha: Nagoya
estação: Okazakikoen-mae
endereço:Aichi-ken Okazaki-shi Hatcho-cho Okandori 52
Entrada franca nas visitas que são realizadas a cada 30 minutos, a partir das 9 da manhã e até às 16:20. https://goo.gl/maps/wnEXankurERibELW9
(3) Santuário Atsuta
Dedicado à deusa do sol Amaterasu, o Atsuta é um dos mais importantes santuários xintoístas do país. Uma das relíquias imperiais, a espada sagrada Kusanagi, fica guardada aqui, longe dos olhos dos fiéis e visitantes. Ainda assim, o santuário localizado em uma colina bem dentro de uma área urbana de Nagoya vale a visita. O Atsuta conta com diversos festivais ao longo do ano. Também é possível provar uma iguaria local, o kishimen, uma espécie de macarrão achatado, no restaurante Miya, que fica no terreno do santuário.
linhas: Nagoya, Tokoname
estação: Jingu-mae
endereço: Aichi-ken Nagoya-shi Atsuta-ku Jingu 1-1-1
entrada franca
O restaurante fica aberto das 9 às 16:30 (último pedido). https://goo.gl/maps/rHsVP8GBKcVtH8Br7
(4) Minami-chita Onsen
Localizadas à beira-mar, na ponta da Península de Chita, três estâncias de águas termais — Utsumi, Yamama e Toyohama — formam essa região turística chamada de Minamichita Onsen. São destaques as pousadas tradicionais estilo ryokan, super gostosinhas. Uma das mais charmosas é a Shuku Kaifu, que tem um rotemburô, banho a céu aberto, de madeira e com vista pro mar. Nem é preciso dizer que os frutos do mar são fresquíssimos na região que atrai, também, amantes de praia.
Construído em 1537, este é um dos doze únicos castelos originais que ainda estão de pé no país. Designada Tesouro Nacional pelo governo japonês, a construção fica no alto de uma colina, às margens do Rio Kiso. Construído com pedras e madeira, a aparência interna do castelo também se mantém praticamente intacta e mostra a beleza simples dessas construções. Depois de passar por um lance de escadas íngreme e apertado, viajantes também podem se deliciar com a bela vista do Kiso e do entorno do castelo.
Totalmente coberta de vegetação, esta pequena ilha localizada na costa da cidade de Gamagori é um santuário dedicado à deusa Benzaiten. Uma ponte de 387 metros de extensão conecta a ilha ao restante do município e, diz a lenda, que atravessá-la de mãos dadas com a sua cara metade traz sorte no amor. Além do santuário e da vegetação, a ilha é o local ideal para quem gosta de observar pássaros. No inverno, aves migratórias da Sibéria (Rússia) costumam dar seus ciscos pela ilha.
Realizado anualmente, sempre no quarto fim de semana de julho, o Tenno Matsuri tem 600 anos de história e é considerado um dos três maiores festivais de rio do Japão. Durante o dia, barcos adornados cruzam o Rio Tenno e, em uma das cerimônias, 10 rapazes vestidos de fundoshi (uma cueca tradicional que deixa as nádegas à mostra) atravessam o rio a nado. Na parte da noite, cinco barcos iluminados com lanternas de papel — makiwarabune, em japonês — cruzam o Tenno criando belos efeitos de luz na penumbra.
Owari Tsushima Tenno Matsuri
linhas: Tsushima, Bisai
estação: Tsushima
endereço: Aichi-ken Tsushima-shi Miyagawacho 1 – Parque Tennogawa
data: quarto fim de semana de julho https://goo.gl/maps/Fei8jGghP71kbgpM8
(8) Sakushima
Amantes de artes vão adorar circular por esta pequena ilha em formato de U. Desde o ano 2000, o local vem recebendo diversas obras de arte ao ar livre que coexistem com a paisagem bucólica e antiga da vila de pescadores. Completam a paisagem 88 santuários e templos. Vale a pena, também, conferir os cafés e restaurantes. Um deles, o Gohan-ya Umi oferece o kaisendon, uma tigela com arroz e sete tipos de frutos do mar da estação.
Quase todas as companhias ferroviárias no Japão oferecem tíquetes e passes que ajudam a economizar em viagens de fim-de-semana e/ou de longa distância. Conheça os passes da Meitetsu e economize na sua viagem.
Marunori 1 Day Free Kippu
Custa ¥3200 (¥1600 para crianças) e permite usar todas as linhas da empresa por um dia. Os trens especiais (特別車), no entanto, só podem ser usados no horário entre 10 e 16 horas. Oferece descontos na entrada de parques e em compras feitas em lojas selecionadas.
Meitetsu Densha Zensen 2 Day Free Kippu
Oferece a possibilidade de embarcar em todas as linhas da empresa, sem restrições de horário, por dois dias consecutivos. Custa ¥4000 (crianças pagam a metade).
Gunma é subestimada. Apesar do enorme potencial industrial de algumas de suas cidades, a província pouco é lembrada quando o assunto é turismo. Acontece que, cercada de montanhas, Gunma é cheia de atrações quase desconhecidas o que, em tempos de overturismo, é uma grande vantagem. Enquanto visitantes já disputam espaço de forma quase feroz em localidades como Tóquio e Kyoto, quem escolhe passear em Gunma tem muito mais chances de curtir a viagem com tranquilidade e sem atropelos. Isso mesmo quando estamos falando de Kusatsu Onsen, talvez o local mais conhecido da província. Aliás, com tantos vulcões ativos nas redondezas, não é difícil associar Gunma às águas quentes. Ikaho, Shima, Isobe, Oigami, Manza… A lista de estâncias de águas termais é longa. Mas as atrações turísticas da província são bem mais variadas e nós selecionamos algumas delas. Por exemplo, quer saber de onde vem a vocação industrial de Gunma? Que tal conhecer o complexo de fabricação de seda de Tomioka? Fundada como um espaço modelo de produção no reinado Meiji, a fábrica foi tombada pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Folclore e tradição também não faltam na província. Takasaki, uma de suas maiores cidades, é o lar de uma das figuras mais conhecidas do Japão, o daruma, aquele bonequinho meio gordinho fabricado sem as pupilas. Existe um templo na cidade que faz parte da história desse mito. Tengus, os guardiães da montanha, também são reverenciados em Gunma, onde existe o único festival do Japão com andores na forma dessa figura nariguda. Neste blog a gente quer te mostrar que não existe uma só Gunma para você viajar. São várias opções, com características bem peculiares que, com certeza, vão encantar e te fazer querer voltar para conhecer mais. Confira!
1 – Uma cidade com cheiro de enxofre
Considerada uma das melhores estâncias de águas termais do país, falar em Gunma é se lembrar de Kusatsu Onsen para a grande maioria dos japoneses. Conhecida há séculos, diz-se que a água que jorra em abundância no local cura tudo, menos males de amor. O cheiro leve de enxofre parece não incomodar os moradores nem os visitantes. Aliás, é difícil não se apaixonar pela cidadezinha que, bem em seu centro, tem uma corredeira de águas termais, uma das atrações mais instagramáveis de Kusatsu. Trata-se do Yubatake que jorra 5 mil litros por minuto e é considerada uma das fontes mais termais de água mais abundantes do país. Brotando do chão a uma temperatura de cerca de 70 graus, a água lança no ar um cheiro leve de enxofre e, para resfriar, ela passa por dutos feitos de madeira. Em seguida, é levada através de tubulações às diversas pousadas da cidade, algumas delas com dezenas de anos de histórias. Você nem precisa sair da fonte para sentir qual é a das águas que jorram por ali. Bem no entorno fica um ashiyu, um escalda-pés público e gratuito. Leva a sua toalhinha e aproveite.
Bem em frente ao Yubatake fica uma série de atrações que valem a sua visita. O Netsunoyu é uma delas. Uma espécie de espaço cultural, o local abriga o Yumomi, o método aplicado para o resfriamento das águas termais no passado. Muitas estâncias temperam a água quente com o líquido resfriado para chegar a uma temperatura mais adequada para o banho. No passado, uma forma de evitar essa mistura era mexer a água com tábuas grandes, serviço feito por jovens senhoras que, enquanto resfriavam o tanque, cantavam e dançavam. No Netsunoyu, o Yumomi é realizado seis vezes ao dia, entre às 9:30 e às 16 horas. A entrada custa ¥600.
Ir até Kusatsu e não entrar num onsen é um verdadeiro sacrilégio. No entorno do Yubatake ficam diversos banhos para quem está somente de passagem pela cidade. Dois deles têm chamado a atenção pela arquitetura simples mas muito elegante. São o Otakinoyu e o Gozanoyu. Ambos os espaços são construídos em madeira, o que traz aconchego ao ambiente e ajuda no momento de relaxar.
O Otakinoyu é descrito em seu próprio site como um banho “recentemente renovado” e com “pilares de madeira que alcançam o teto e se assemelham a árvores altas eretas no meio da neblina, já que o vapor das águas termais as envolve, trazendo a sensação de estar ao ar livre”. Descrição mais precisa, impossível. Mas não é só isso. Quem visita o Otakinoyu também pode experimentar um método de banho conhecido como awaseyu, que nada mais é do que fazer uso alternado de diversos banhos com diferentes temperaturas, começando a partir da mais baixa que, no local, é de 38 graus. Acho que vale ressaltar que o banho mais quente tem 46 graus e, para dizer a verdade, é quente para caramba! Além do awaseyu, o espaço conta com uma piscina grande e um banho externo, rotemburô em japonês. Homens e mulheres se banham em espaços distintos, mas quem quer ter privacidade a dois ou com a família pode reservar um banho privado com acessibilidade para portadores de necessidades especiais. O espaço privado custa ¥2000/hora. O Otakinoyu também oferece serviços de massagem e tem um café e restaurante.
Outro local para se aliviar do estresse fica no meio da natureza, a cerca de 15 minutos de caminhada do Yubatake. O Sainokawara é um parque localizado numa ravina cortada por um córrego com diversas fontes de águas termais. O tranquilo passeio na clareira cercada de verde pode ser interrompido por paradas para aquecer os pés nos inúmeros ashiyu do local e culmina num espaço com um banho a céu aberto, no meio das árvores, o Sainokawara Rotemburô. O local é bem simples, mas muito espaçoso e conta apenas com um dos dois banhos, masculino e feminino, e os respectivos vestiários. Vale super a pena a visita.
Voltando ao centrão da cidade, logo após o parque, não deixe de dar uma olhada nas lojinhas que ficam no caminho. Kusatsu é uma região de produção tradicional de produtos em vidro e os delicados itens de cozinha e decoração são aquele tipo de lembrança sem cara de souvenir. Se a fome apertar, a ruazinha oferece ovos cozidos nas águas termais, o onsen tamago. Outra iguaria local é o manju, um bolinho de massa de farinha de trigo recheado. Comum em todo o país, em Kusatsu o manju ganha cozimento no vapor termal e, em alguns casos, a própria água cheia de minerais da localidade entra na receita da massa. Simples mas gostoso.
Outra opção gastronômica local é o maitake tempurá que, como o nome já entrega, é o tradicional empanado japonês de um cogumelo comum na região. Servido junto com o macarrão de trigo sarraceno sobá, o maitake tempurá é feito com cogumelos frescos e a técnica de fritura faz com que a casca seja fina e crocante. Uma excelente iguaria tradicional, à altura de um dia em Kusatsu.
2 – Uma fábrica que é Patrimônio da Humanidade
Testemunha dos esforços do Japão em entrar na modernidade, a Fábrica de Fios de Seda de Tomioka foi inaugurada em 1872 para ser um espaço modelo de produção. No século 19, a seda bruta era o principal item de exportação do Japão. A demanda era tão grande que os produtores começaram a baixar a qualidade do produto para atendê-la. Isso acabou prejudicando a reputação do produto japonês no mercado externo e, por isso, o reinado Meiji decidiu trazer técnicas de produção francesas para o país e construir uma fábrica que pudesse servir como difusora de novas tecnologias entre os produtores locais. O prédio principal de tijolos com pilares de madeira está impressionantemente bem conservado para os seus quase 150 anos de história, e é o foco central da visitação. Nele é possível ver o maquinário original da época além de uma exposição que dá uma ideia de como era o processo de produção da seda e as mudanças econômicas pelas quais o país estava vivendo na época. Em 2014, o complexo e outras construções relacionadas a ele foram tombadas pela UNESCO e hoje são Patrimônio da Humanidade.
Fábrica de Fios de Seda de Tomioka
Gunma-ken Tomioka-shi Tomioka 1-1
9 às 17 horas (entrada até 16:30)
¥1000 (adultos), ¥250 (estudantes de ensino médio e universitários), ¥150 (estudantes de escola primária e secundária)
3 – Um templo cheio de darumas
Quem mora no Japão certamente já encontrou em templos por aí o Daruma, um bonequinho gordinho com os dois olhos brancos, sem o desenho da pupila. Pouca gente sabe que esse amuleto é a representação de um monge, Bodhidharma, que tem entre suas façanhas a fundação do budismo zen na China e a formatação do que hoje é conhecido como kung fu shaolin, uma vertente dessa arte marcial chinesa. O monge também era um grande propagador da meditação e diz-se que ele teria atingido o estágio de iluminação depois de 9 anos ininterruptos na prática. Bodhidarma teria levado tanto a sério a meditação que cortou as próprias pálpebras para não cair no sono. Além disso, com os anos em posição estática, seus membros teriam se atrofiado.
O monge, que pode ter nascido na Índia, não chegou a vir ao Japão, mas seus ensinamentos chegaram até o país. Em Takasaki, um religioso local fez desenhos de Bodhidarma para adornar um pequeno templo local dedicado a Kannon, a deusa da misericórdia. No século 18, após uma grande fome, outro monge começou a distribuir entre os fiéis pequenos bonecos de madeira parecidos com o desenho que ornava o templo. Assim teria surgido o daruma, o amuleto que conhecemos hoje. A figura com os olhos grandes e o corpo arredondado — representando o sacrifício para alcançar a iluminação — é onipresente no Templo Shorinzan Darumaji, palco da história contada um pouco mais acima. Além dos prédios religiosos, o espaço abriga um museu com darumas de diversas naturezas. Nos dias 6 e 7 de janeiro, o templo recebe o Daruma Ichiba, um mercado com os bonecos feitos por diversos artesãos locais. O amuleto também é enraizado na cultura da cidade. Takasaki é a cidade que produz mais de 80% dos bonequinhos que você vê Japão afora.
Templo Shorinzan Darumaji
Gunma-ken Takasaki-shi Hanadaka-machi 296
9 às 17 horas
entrada franca
4 – Uma cidade bem brasileira
Brazilian Town. É com essa alcunha que um pequeno município de Gunma está entrando no mapa turístico do Japão. Considerada a cidade com maior concentração de brasileiros do país, Oizumi é o lar de cerca de 4 mil brasileiros que correspondem a algo como 10% da população local e como a gente não vai a lugar nenhum se não for para causar, nossa população canarinha é bem visível. São inúmeros restaurantes e outros estabelecimentos criados, inicialmente, para que não nos falte o arroz e feijão de cada dia mas que vêm atraindo também os japoneses que, como nós sabemos, adoram comer coisas diferentes. Aliás, Oizumi também ganhou destaque recentemente num manual japonês de queijos de todo o mundo justamente com um legítimo representante brasileiro: o queijo minas. Andam rolando até excursões com japoneses vindo de diversas partes de Kanto para saborear o churrasco e a feijoada oferecida no local. E é assim, pelo estômago, que Oizumi, uma pequena cidade industrial, vai atraindo mais visitantes.
5 – Uma parada de estrada que vai além dos restaurantes
Banheiros, posto de gasolina, restaurante e loja de conveniência: é isso que você espera de uma boa parada na estrada, certo? Errado! Se você estiver em Gunma, pode esperar mais. Muito mais. No michi-no-eki Kawaba Den-en Plaza, tem fábrica de cerveja artesanal, padaria e uma charcutaria com salsicha e presunto feitos ali mesmo, com carnes produzidas localmente. O restaurante também oferece pratos com outros produtos locais como o sobá (trigo sarraceno) e o arroz premiadíssimo da região, o yukihotaka. Aliás, esse arroz é uma iguaria tão local que o único jeito de prová-lo é indo até Kawaba. Cultivado pelos moradores da vila como se fosse um filho, o yukihotaka é regado com água mineral e seu sabor é tão especial que o arroz já foi premiado diversas vezes. Já valeu a pena a parada? Não responda ainda. Para quê seguir viagem se você tem no local uma plantação de mirtilo para colher com a família, uma oficina para fazer seu próprio artigo de porcelana e pode até ver de perto uma locomotiva a vapor, a D-51? Pois é. Não é à toa que o Kawaba Den-en Plaza foi eleito, por cinco anos consecutivos, a melhor parada de estrada da região de Kanto.
michi-no-eki Kawaba Den-en Plaza
Gunma-ken Tone-gun Kawaba-mura Hagimuro 385
6- Um parque de lava
Depois que o Monte Asama explodiu em 1783, o povo local ficou dias sem ver a luz do sol. Provavelmente, só depois de alguns dias deve ter notado que a lava quente formou um emaranhado rochoso, totalmente desorganizado. Por isso, eles deram ao lugar o nome de Onioshidashi, que pode ser entendido como “algo feito de qualquer jeito pelo capeta”. Séculos depois, o Asama segue imponente, à distância, dando suas broncas de vez em quando, a última delas em 2009 quando cinzas foram expelidas a uma altura de 2 quilômetros. Já o terreno coberto de lava endurecida virou um parque que atrai visitantes do mundo inteiro interessados em ações e paisagens vulcânicas. O local não decepciona. Além da vista deslumbrante, o local tem um santuário e um museu que explica o funcionamento dos vulcões. O Parque Onioshidashi é daquelas imagens que ficam na memória para sempre.
Parque OnioshidashI
Gunma-ken Agatsuma-gun Tsumagoi-mura Kanbara 1053
8 às 17 horas (entrada até às 16:30)
¥650 (crianças acima da escola primária e outros), ¥450 (crianças até a escola primária)
7 – Um festival narigudo
Todos os anos, no início de agosto, os moradores de Numata saem às ruas para o festival tradicional da localidade. Poderia ser mais um belo festival local se não fosse um detalhe: alguns dos mikoshi, andores portáteis, têm o formato do tengu, aquela criatura nariguda da cosmologia xintoísta. Os tengu são uma mistura de humanos com aves e protegem as florestas, que são suas casas. Por isso, não é incomum ver suas figuras narigudas nas entradas das matas.
Apesar de aparições anteriores, a história do andor do tengu começou em 1983 depois que a organização do festival decidiu por algumas mudanças nas consagrações do evento. Desde então, o mikoshi diferente passou a fazer parte do cortejo, em prol da proteção da família, da segurança no trânsito, da prosperidade nos negócios, dentre outros. Consideradas como zeladoras das famílias, as mulheres foram escolhidas para liderar o cortejo, carregando o andor durante a procissão. O Numata Matsuri é o único festival do país com essas características e rola nos arredores da cidade de Numata, dos dias 3 a 5 de agosto de cada ano.
Encravada entre montanhas, Gunma é cheio de lugares para quem gosta de caminhadas pela natureza. Nenhum é mais famoso que o Parque Nacional de Oze, localizado no nordeste da província, bem na divisa com Fukushima. Lá fica o maior brejo do Japão, Ozegahara. Brejo, em português, não tem uma conotação muito positiva já que virou sinônimo de lugar desolado. Acontece que este é um ecossistema riquíssimo, dominado por gramíneas e que atrai diversos tipos de pequenos animais, incluindo insetos como a borboleta. Eles se formam através do empoçamento contínuo da água das chuvas que escorre das montanhas, através de pequenos rios. A água empoçada, muitas vezes ricas em minerais, vai saturando o solo e formando um ambiente ideal para a sobrevivência. Ozegahara é, sim, um brejo e com muito orgulho.
Outro destaque do parque é a Ozenuma, uma lagoa que fica entre uma hora e meia e duas horas de caminhada na floresta, partindo de Ozegahara. Um caminho de madeira de cerca de 6 quilômetros de extensão circunda a lagoa e oferece excelentes oportunidades para boas fotos além, claro, da saudável caminhada. Esse é um dos lugares onde se podem ver as belezas vegetais mais famosas do parque: as flores de repolho. Com pétalas de uma cor que lembra um lírio branco, a flor em nada lembra a verdura, diga-se de passagem. A florada começa entre o final da primavera e o início do verão.
Localizado a mais de mil metros de altitude, o Parque Nacional de Oze tem trilhas muito bem cuidadas, com caminhos de madeira que tornam o local mais seguro e o passeio agradável. Além disso, os montes Shibutsu e Hiuchi formam uma bela paisagem de fundo para os visitantes. São várias as rotas que cortam o parque, a mais curta dura cerca de uma hora, a Hatomachitoge que leva até o lago. Quem diria, hein, que você um dia ia sair de casa para ver flor de repolho no brejo?
No início do século 17, ainda nos primórdios do Período Edo, a família do famoso guerreiro Oda Nobunaga ganhou em batalha um domínio no sul da província de Gunma, numa localidade conhecida como Kanra. Ali, eles estabeleceram Obata, um vilarejo que se desenvolveu às margens das águas cristalinas do Rio Ogawa. O clã construiu um pequeno castelo, mais parecido com um palácio, para receber um dos descendentes de Oda, que se tornou o senhor da localidade. As ruínas do palácio, com seu muro de pedra, ainda podem ser vistas na localidade e algumas residências de antigos samurais estão bem preservadas e são abertas à visitação. Nessas casas, a delicada sofisticação dos jardins, regados à água captada diretamente do rio, contrasta com a violência associada aos guerreiros da época. Aliás, outro local que vale a visita é o Rakusan-en, um jardim considerado o único na província de Gunma construído por uma família de samurais. Com as montanhas ao fundo, as árvores do espaço compõem uma paisagem cheia de beleza e delicadeza. Durante o outono, a folhagem dos áceres vão mudando de cor fazendo do Rakusan-en um belo local para apreciar o koyo.
Mas é durante a temporada da floração das cerejeiras que o povo da cidade incorpora seus fundadores ancestrais numa parada de samurais que é um dos eventos que fazem parte do Obata Sakura Matsuri. Todos os anos, 200 “samurais” e outros personagens da era de ouro da localidade desfilam pelas ruas repletas de casas no estilo japonês e sob as flores de cerejeira. A procissão sai da frente do Rakusan-en.
Rakusan-en
Gunma-ken Kanra-gun Kanra-machi Oaza Obata 648-2
9 às 17 horas (entrada até às 16:30, de março a outubro)
9 às 16 horas (entrada até às 15:30, de novembro a fevereiro)
¥300 (crianças até a escola secundária não pagam)
Obs. Artigo original publicado em Novembro de 2019.
Localizada ao norte de Tóquio, Ibaraki é a “última fronteira” de Kanto, a região mais populosa do Japão, centro econômico e político do país. Espremida entre o mar e a montanha, a província tem forte influência da capital nacional, mas também guarda uma certa brejeirice interiorana, que a aproxima da região vizinha de Tohoku. No interior, cidades montanhosas abrigaram castelos e residências de antigos senhores feudais e desenvolveram uma economia baseada na agricultura e no comércio local. Já o litoral é da pesca, abundante por conta do encontro de correntes marinhas que fazem o ambiente marinho local propício para diversas espécies de frutos do mar de alto valor comercial.
A proximidade com a capital também trouxe a indústria para Ibaraki. Diversas empresas importantes têm sua produção em algumas cidades da província, o que também acabou atraindo uma população brasileira que, segundo dados de 2018, é de 5870 habitantes. Além disso, Ibaraki também abriga um dos maiores polos científicos do Japão, concentrado na cidade de Tsukuba, onde a Agência Espacial Japonesa (JAXA) é o destaque.
Veja as dicas de passeios para você conhecer melhor a província. Elas foram divididas por cidades de acordo com os temas. Ciência, história, cultura, gastronomia e natureza são alguns dos pontos que destacamos para surpreender você. Vem com a gente!
1 – A Cidade da Ciência
Quem embarca no moderníssimo Tsukuba Express e vai se aproximando do ponto final só tem algumas pequenas dicas de que está chegando numa cidade da ciência. Uma das estações tem nome de centros de pesquisa e da janela do trem é possível ver que tem algo em Tsukuba que é diferente das paisagens interioranas japonesas de outras regiões. Lar de uma das mais importantes universidades do Japão, a Tsukuba University, a cidade é uma das mais conhecidas da província de Ibaraki. Diz-se que a escolha do local para sediar a instituição foi feita porque Tsukuba é próxima de Tóquio o suficiente para se beneficiar do acesso ao centro econômico, científico e político do país mas ao mesmo tempo, longe o bastante para que a agitada vida toquiota não sirva de distração para estudantes e pesquisadores.
Dito isso, a ideia que fica é a de que Tsukuba é uma cidade modorrenta e cheia de nerds, certo? Depende! A primeira parte da afirmação passa longe de ser verdadeira. Apesar e por causa da vocação para a ciência, Tsukuba atrai gente do mundo todo à procura de conhecimento e, claro, de um pouco de diversão. Além dos próprios pesquisadores e estudantes, a cidade recebe gente comum que só quer saber mais. Cerca de 50 instituições de pesquisa científica da cidade abrem suas portas para a visitação pública. Já quanto aos nerds… Bem, podemos dizer que boa parte das pessoas que visitam a cidade tem um pezinho na nerdice. Afinal, que tipo de pessoa sabe apreciar melhor as maravilhas da ciência? Se você é assim, pode considerar que o vírus da nerdice já te infectou. Mas afinal, o que existe em Tsukuba que atrai tanto os amantes da ciência?
Para começar, fica na cidade o principal centro de pesquisas da JAXA, a Agência Aeroespacial Japonesa, que recentemente fez notícia mundo afora ao pousar não somente uma, mas duas vezes num asteroide em movimento. É possível para o visitante leigo conhecer um pouco da história dessa agência no Tsukuba Space Center, um centro de pesquisas que ocupa uma área de 530 mil metros quadrados, cercado de natureza e em plena produção científica.
Ver os laboratórios só é possível para pesquisadores registrados, mas visitantes com fascínio pelo espaço não se decepcionarão ao conhecer o Space Dome e o Planet Cube, duas áreas voltadas para a divulgação da pesquisa espacial japonesa e de sua história. Logo na entrada do domo fica o Dream Port, um modelo em escala 1/1.000.000 que dá uma ideia, por exemplo, de onde fica posicionado um dos principais satélites de comunicação japoneses. Seguindo mais adiante, uma série de itens, originais e réplicas, ocupam o enorme galpão e contam com detalhes as aventuras e conquistas japonesas no espaço sideral, inclusive a história e as descobertas da missão Hayabusa 2, aquela que fez dois pousos no asteroide. Além disso, é possível entrar numa versão em escala real do Kibo, o módulo experimental japonês na Estação Espacial Internacional. Do lado de fora do espaço, o visitante pode ver de perto um foguete real, o H II, com cerca de 50 metros de comprimento. Toda essa área tem entrada franca e as visitas são livres.
Quem quer se aprofundar ainda mais pode reservar uma tour à Sala de Controle do Kibo e ao Centro de Treinamento de Astronautas, nos quais é possível ver certas atividades em tempo real. Na visita, dá para saber mais sobre a profissão de astronauta, com informações sobre seleção, treinamento e cuidados com a saúde. São duas visitas guiadas por dia para quem vem fora de grupos. Adultos pagam ¥500 e estudantes até o ensino médio entram de graça. O agendamento antecipado é obrigatório. Grupos com até 20 pessoas também devem solicitar reserva e o preço da visita é de ¥10 mil. Os passeios guiados são feitos em língua japonesa. Tours em língua inglesa também estão disponíveis. Porém, é preciso reservar com muita antecedência, já que são poucos horários oferecidos nesta língua.
Vendo estrelas
Nenhuma viagem até Tsukuba fica completa sem que você visite o Expo Center da cidade, um espaço aberto em 1985 para sediar uma exposição mundial de desenvolvimento científico. O tempo passou e o prédio, que também tem um foguete que pode ser visto da estação central da cidade, continua cheio de tecnologia de ponta para ver e principalmente para explorar.
O centro abriga veículos de diversas naturezas. O KAZ é um carro elétrico de alta velocidade e 8 pneus desenvolvido pela Universidade Keio. Já o Shinkai 6500 fica no segundo andar do prédio e é um módulo de exploração submarina. O JARE, por sua vez, parece familiar já que é um removedor de neve, mas a presença dele no local se deve ao fato dele ter sido usado na Antártica. Mas o veículo de maior destaque é, sem dúvidas, o H II, foguete que visitou o espaço por cinco vezes nos anos 90.
Semelhante ao módulo de lançamento que pode ser visto no Space Center da JAXA, o foguete não é a única atração espacial do Expo Center. O local é a casa de um dos maiores planetários do mundo, com uma cúpula de quase 26 metros de diâmetro e equipamentos de projeção digital de última geração. Também vale destacar o Sun Cruiser, o simulador de uma viagem ao sol. Aliás, interação e experimentação são as palavras de ordem no Tsukuba Expo Center. Afinal, quando você vai ter a chance de mover sem a ajuda de ninguém uma pedra de 50 toneladas? Sim, esse é o Yurugi-ishi, uma obra de arte e de ciência produzida para a exposição de 1985. Num momento em que a desinformação tem feito muita gente desprezar o conhecimento científico, nada como uma visita a uma cidade que leva a produção de ciência de ponta a sério.
JAXA – Tsukuba Space Center (JAXA筑波宇宙センター)
Ibaraki-ken Tsukuba-shi Sengen 2-1-1
10 às 17 horas (o Space Dome abre às 9:30)
entrada franca (Space Dome; tour guiada para estudantes até o Ensino Médio, pessoas de até 17 anos, pessoas com deficiências e um acompanhante e profissionais da educação acompanhando grupos de estudantes), ¥500 (a partir dos 18 anos, em tour guiada)
reserva obrigatória para grupos acima de 10 pessoas e para a tour guiada
Tsukuba Expo Center (筑波エキスポセンター)
Ibaraki-ken Tsukuba-shi Azuma 2-9
9:50 às 17:00 (entrada permitida até 30 minutos antes do fechamento)
fechado às segundas-feiras
¥410 (adultos) e ¥210 (crianças) ou, com o planetário, ¥820 (adultos) e ¥410 (crianças)
2 – A Cidade do Natto
Ame-o ou deixe-o. Com o natto é assim, não existe meio termo. Se para quem só conhece a gastronomia japonesa fora do Japão o peixe cru é um grande tabu, quem vive no país acaba descobrindo que o buraco é muito mais embaixo. Para muitos, o fundo desse poço é o natto, uma iguaria feita com soja fermentada, com um aspecto melequento e um cheiro forte que dificilmente costumam servir como atrativos para marinheiras e marinheiros de primeira viagem. Acontece que, para os japoneses de Kanto, o natto é quase uma instituição. Não existe café da manhã tradicional sem a iguaria que pode ser temperada com mostarda, shoyu e cebolinha. Puro ou acompanhando o arroz, o fermentado está sempre presente.
Mito, bem no centro da província, é a capital de Ibaraki. A pequena cidade de pouco mais de 210 mil habitantes também é a capital nacional do natto. A história da província com a iguaria vem de séculos atrás. Acredita-se que o natto tenha surgido em algum lugar na região de Tohoku, com a qual Ibaraki faz limite, e se espalhado pela vizinhança. Naquela época, era comum transportar comida embalada em palha de arroz.
Uma das histórias diz que um grupo de soldados estava cozinhando grãos de soja quando precisou fugir às pressas de um ataque inimigo. Para não perder a escassa ração, os homens embalaram os grãos já cozidos em palha de arroz e bateram em retirada. Tempos depois, ao abrir as embalagens para comer, a soja estava grudenta. Surgia, assim, sem muitas glórias, o natto. Os soldados fujões mostraram que coragem não lhes faltava e acabaram comendo o negócio assim mesmo. Eis que acharam bom e os homens acabaram por espalhar a receita. Isso deve ter acontecido no Período Heian, há mais de mil anos. Atualmente, sabe-se que os soldados fizeram bem em comer a iguaria. O natto é uma comida super nutritiva, contendo vitaminas, minerais como o ferro, fibras e outros daqueles itens indispensáveis para uma vida guerreira.
A fermentação da soja para o preparo do natto é feita por uma bactéria chamada Bacillus subtilis natto. Carinhosamente chamado pelos japoneses de natto-kin, o micróbio gosta de viver na palha do arroz, facílimo de encontrar num país onde o cereal é a base da alimentação. Os antigos só tiveram que guardar a soja cozida nas palhas que sobravam da colheita do arroz e deixar a natureza trabalhar. Essa era a maneira de produzir o natto no passado. Hoje em dia, com a produção de massa, a bactéria é inserida já nas embalagens de isopor. Mas basta ir até Mito para ver o modo de produção tradicional da iguaria
Na estação central da cidade já dá para perceber que o natto é muito importante para os locais. O wara natto, a iguaria produzida na palha do arroz, pode ser comprado mesmo sem sair da estação. Em frente à parada ferroviária, uma estátua do wara natto mostra mesmo que os mitoenses levam a iguaria à sério. O sucesso do natto de Mito começou no ano de 1900, quando a linha ferroviária Joban chegou à cidade, vinda de Tóquio. Na época, os visitantes eram apresentados ao wara natto já nas plataformas e não demorou muito para que o produto local fosse considerado de alta qualidade, diferente daquele consumido na capital do país. Ainda hoje o nome de Mito é ligado ao wara natto, algo que traz orgulho aos moradores da cidade.
Para conhecer de perto a produção tradicional de natto na cidade visite o Mito Tengu Natto Museum que fica a cerca de 400 metros da estação central. O espaço é administrado pela fábrica de mesmo nome que até os dias de hoje produz natto da forma mais tradicional, ou seja, na palha de arroz. No museu, é possível saber mais sobre a história do wara natto e os detalhes de sua produção, do passado até os dias de hoje. O espaço de exposição fica ao lado da fábrica, separado apenas por paredes de vidro. Isso quer dizer que é possível ver o pessoal trabalhando na iguaria. Quem sabe era uma oportunidade dessas que estava faltando para você incluir o natto na sua dieta?
====== BOX/DESTAQUE ===== 納豆と同じ枕に寝る夜かな
nattô to onaji makura ni neru yo kana
O nattô compartilha
o travesseiro comigo
Que noite de sono!
O poeta Issa (1763-1827) cantou o natto em diversos haiku. Neste, o autor mostra a importância da iguaria na dieta de sua época. =========
Tengu Natto Museum (納豆展示館)
Ibaraki-ken Mito-shi Sannomaru 3-4-30
9:00 às 17:30 – entrada franca
3- A Cidade das Bonecas
Todo mês de março, o Japão inteiro é inundado com belos altares vermelhos onde se alinham bonecas que representam a corte imperial do Período Heian. Chamado de Hina Matsuri, o festival existe para celebrar as meninas da família e pedir por sua saúde e felicidade. Diversos locais em Ibaraki organizam programação especial para a época, mas nenhum se tornou tão conhecido quanto Makabe, atualmente um distrito da cidade de Sakuragawa.
Até bem pouco tempo atrás, a pequena Makabe era um município independente com um título curioso: cidade da pedra. Isso porque, há pelo menos 500 anos, os artesãos da cidade vêm se especializando na produção de belas lanternas de pedra, chamadas em japonês de ishidoro. Essas lanternas costumam ornamentar templos e santuários, além de jardins tradicionais. Desde o Período Meiji, o ishidoro de Makabe é apreciado como símbolo de refinamento e delicadeza.
Aliás, esses adjetivos poderiam muito bem se aplicar às antigas residências do local. Antes, uma cidade criada no entorno de um castelo, Makabe hoje brilha com cerca de 300 construções datadas dos Períodos Edo, Meiji e Taisho. Noventa e nove desses prédios são tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional. Dentre eles, está a Livraria Kawashima que servia como farmácia durante o Período Edo. Outra construção de destaque é a fábrica de saquê Nishioka, com seus 230 anos de história.
Cenário como este não poderia ser mais propício para as comemorações do Hina Matsuri. Em Makabe, elas começam no início de fevereiro e duram até o início de março, culminando no dia 3, data oficial do Hina. Apesar do sucesso, tudo começou há pouco mais de uma década. Naquela ocasião, cerca de 20 famílias abriram suas casas, tiraram suas coleções de bonecas das caixas e mostraram para os visitantes durante o mês da festividade. A adesão da comunidade foi imediata e, hoje, são cerca de 160 expositores, entre negócios e residências particulares, com bonecas hina de diversos formatos e materiais, algumas delas com séculos de história. Não podiam faltar, claro, as personagens hina feitas de pedra, material que deu nome à Makabe por muitos anos e, agora, ajuda a transformar a localidade na cidade das bonecas.
Festival Hina de Makabe (真壁ひな祭り)
Ibaraki-ken Sakuragawa-shi Makabechoiitsuka
início de fevereiro até o início de março, com culminância no dia 3
transporte especial é oferecido a partir das estações de Tsukuba e Iwase durante o festival
entrada franca
4- A Cidade das Carpas
Hitachiota, quase no litoral de Ibaraki, produz uma grandiosa exposição de carpas suspensas na Ponte Ryujin, considerada a maior passarela de ferro do Japão. Cerca de mil carpas são penduradas paralelas à ponte, cruzando o desfiladeiro, da última semana de abril até o meado de março.
Ornamento comum no antigo Dia dos Meninos (5 de maio), as carpas são as estrelas de uma lenda que conta que a espécie, ao nadar contra a corrente, se torna um dragão no final da jornada. No passado, esse tipo de jornada heroica era visto como coisa de garoto e, por isso, as famílias suspendiam carpas somente para os filhos homens. Atualmente, cada uma das crianças da família ganha destaque e as orações são feitas para que meninos e meninas se tornem fortes como os dragões da lenda. Em Hitachi-ota, esse desejo é representado por carpas gigantes e multicoloridas que balançam ao sabor do vento no desfiladeiro. Poético!
Festival das Carpas do Desfiladeiro de Ryujin (竜神峡鯉のぼり祭り)
Ibaraki-ken Hitachiota-shi Keganocho 2133-6
final de abril até a segunda semana de maio
entrada franca
5 – A Cidade das Flores
Um dos lugares mais instagramáveis do Japão, o Hitachi Seaside Park é um parque público de 190 hectares na cidade de Hitachinaka no litoral da província de Ibaraki. Antes um aeroporto militar, o espaço foi ocupado pelas forças americanas no final da Segunda Guerra Mundial e utilizado como área de treinamento balístico. Com as mortes e acidentes ocorridos no local, os moradores se organizaram para solicitar o fim do uso militar do terreno, o que acabou ocorrendo em março de 1973, quando os americanos devolveram a área ao governo japonês. A partir daí, se decidiu pela criação de um parque coberto de flores, uma espécie de oração em prol da paz.
Geologicamente falando, o parque fica em cima de uma área de dunas depositadas ao longo dos milênios pelo Rio Kuji, que desemboca por ali, no Mar de Kashima, que nada mais é que o próprio Oceano Pacífico. Essa areia, deslocada pelos ventos abundantes, acabou se formando as diversas colinas da área que hoje abriga o parque. Por conta das correntes quentes e frias que se alternam ao longo do ano, espécies vegetais comuns no norte e no sul do planeta conseguem vingar na região, criando paisagens diferentes ao longo do ano.
Colinas cobertas de um tapete azul são a imagem mais icônica do Hitachi Seaside Park. Do meado do mês de abril até o início de maio, 4,5 milhões de nemófilas florescem em Miharashi no Oka, atraindo, sem exagero, visitantes de várias partes do planeta. Chamadas em japonês de rurikarakusa, essas plantas são originárias da América do Norte e ocupam 3,5 hectares do parque. Elas chegam a 20 centímetros de altura e suas flores delicadas têm até 3 centímetros de diâmetro. Flores coadjuvantes na maioria dos jardins em seu local de origem, as nemófilas são as grandes estrelas na primavera do Hitachi Sea Side Park.
A partir de julho, o protagonismo muda e as Bassia scoparia começam a verdejar. Chamadas de kochia em japonês e mirabela em português, as plantas passam todo o verão com essa coloração. Até que, na entrada do outono, elas começam a mudar de cor. No meado de outubro, os quase 2 hectares dedicados a essa planta nativa do continente eurasiático ficam pintados de vermelho escarlate, um espetáculo que mobiliza milhares de visitantes de volta à Colina Mirahashi. Encontrada também no Japão onde é chamada de houkigusa, a mirabela produz nozes conhecidas pelos japoneses como tonburi. Elas são comestíveis e, na província de Akita, são chamadas de “caviar dos campos”. No parque, no entanto, não é permitido comer os tonburi.
Além das duas maiores estrelas, outras flores podem ser vistas no parque ao longo do ano. Mesmo no inverno, a época mais seca, uma espécie de tulipa pode ser apreciada por lá. Mas é a partir de fevereiro que o local começa a ficar colorido, com o florescer das ameixas. Em seguida, março e abril adentro, abrem os narcisos, a colza, as rosas, as tulipas e outras. O calendário anual das flores pode ser conferido no site do local (hitachikaihin.jp).
Porém, não é só de colorido que vive o Hitachi Seaside Park. Para as crianças, espaços como o Tamago no Mori Garden garantem a diversão. Ali, existe um trampolim que é capaz de drenar a energia da garotada mais agitada. Outro espaço preferido pelos pequenos é o Omoshiro Tube, um playground em forma de tubo que lembra uma montanha russa com seus 400 metros de comprimento e 19 diferentes subidas e descidas. No verão, é possível enfrentar o calor no Mizuasobi Hiroba, onde a garotada brinca em chafarizes e piscinas rasas. A enorme área pode ser percorrida por duas linhas de “trem” que circundam o local e até uma roda gigante foi instalada para quem quer apreciar as flores de forma diferente.
Amantes de esporte também não ficarão descontentes. Duas pistas de BMX podem ser usadas pelos apaixonados por bicicross. Tanto as magrelas quanto os equipamentos protetores podem ser solicitados para empréstimo no local. Quem curte golfe pode usar uma das duas pistas disponíveis no parque, uma delas para iniciante. A cidade das flores é, também, um espaço de lazer e esportes.
9:30 às 17:00 (em alguns dias do ano, o parque abre mais cedo e fecha mais tarde)
De um modo geral, o parque fecha às segundas, no ano novo e em alguns dias na primeira semana de fevereiro. Antes de visitar, consulte o calendário no site hitachikaihin.jp para saber os horários de funcionamento.
¥450 (adultos e estudantes do Ensino Médio), ¥210 (a partir dos 65 anos); tíquetes para dois dias e passe anual também estão disponíveis
6- A Cidade do Peixe Feio
Beleza põe mesa no prato dos japoneses, isso já sabemos. Até o bentô mais ordinário do supermercado costuma ser muito bem apresentado. Em outras palavras, no Japão o pessoal sabe comer com os olhos. Se a beleza é regra para os pratos, o mesmo não pode se dizer para os ingredientes. Assim fosse, seria difícil que alguém se deixasse seduzir pela aparência do anko, conhecido em português como tamboril, uma das criaturas mais feiosas que o mar pôde produzir. Não é à toa que o peixe vive a profundidades entre 100 e 400 metros. Sua boca e suas barbatanas são enormes! Os dentes afiados e as mandíbulas grandes assustam até mesmo os pescadores. Além disso, o animal é viscoso e seu corpo parece mais uma gelatina. Alguém aqui lembrou do natto? Pode-se dizer que o tamboril é um natto em forma de peixe.
Na cidade de Kita-ibaraki, porém, tanta feiura gera riqueza. Hirakata é um dos portos pesqueiros mais movimentados da região e aqui costuma chegar o ki-anko, o tamboril amarelo, uma espécie que chega a ter 1,5 metro de comprimento e o peso de 30 quilos. Pescado basicamente no inverno, o peixe é uma iguaria disputada na estação. Parte da produção local é enviada para os mercados de todo o país e até do exterior por preços que só não são mais assustadores que a aparência do tamboril.
Um dos pratos feito com o feioso é o dobu jiru, um cozidão que leva a carne, os ossos, a pele, os ovários e o fígado do bicho junto com alho-poró, rabanete daikon e pasta de soja missô. O delicioso prato é, literalmente, papo de pescador. Surgido em alto mar, quando eles preparavam sua refeição, o dobu jiru não leva água potável, essencial quando se está embarcado. Isso porque quase 80% do corpo pegajoso e gelatinoso do tamboril é formado pelo líquido, que vai sendo liberado durante o cozimento.
Mas a base do gosto do prato é o encorpado fígado do animal que, ao ser cozido, libera no caldo gordura e sabor. Não é à toa que chefes mundo afora chamam o fígado do tamboril de foie gras do mar. Nos restaurantes de Tóquio, o dobu jiru pode chegar a custar ¥15000. Em Ibaraki, é possível se hospedar num ryokan e comer a iguaria pelo mesmo preço. Depois de conhecer a cidade do peixe feio, tenho certeza de que você vai concordar que beleza, realmente, não põe mesa.